O Discurso Diarístico
Por António Pedro Machado
Não há palavras simples que expliquem o percurso de vida de Thomas Schittek nem frases complexas que descrevam a sua obra.

Não basta olhá-la, é preciso conviver com ela e tocá-la e desfrutá-la para a sentir e possuir.
Thomas Schittek nasceu a 8 de Janeiro de 1964 em Munique, Alemanha, e formou-se em Técnicas de Impressão na Universidade de Munique em1988. Durante os anos 89 e 90 trabalhou, primeiro, como bolseiro da cidade de Lauenberg, na Residência dos Artistas e, mais tarde, nos Estados Unidos, num atelier em Boston. Nos finais de 90 regressou a Munique e viajou pela Alemanha com um destino já traçado, mas ainda sem rumo.

De onde vem a inspiração dos artistas? Porque pintam os pintores?
Em 1991 rumou ao sul da Europa em autocaravana, só, em busca de um lugar que lhe dissesse "é aqui". Passou por Peniche e por lá ficou entre Abril de 91 e Maio de 92. Foi durante este período que pintou o Diário do sol – um conjunto único de 105 aguarelas em que o sol foi o elemento central. Uma aguarela a cada novo dia.

Este Diário do Sol é um marco na vida e obra de Thomas Schittek porque anuncia aquelas que viriam a ser características maiores da sua pintura: o discurso diarístico, estafetariamente cumprido em tela, papel ou azulejo; uma linguagem pictórica distinta, grandiosamente bela e simples, dominada
por elementos naturalistas que denunciam a influência que o ambiente rural, o céu e o mar viriam a exercer em toda a sua obra; e a disciplina e dinamismo do seu trabalho que nos tem revelado uma fonte inesgotável de inspiração.
De onde vem a inspiração de Thomas Schittek nunca saberemos.
Nem, tão pouco, porque veio de tão longe para nós, como se, na sua primeira passagem por Peniche, tivesse sido tocado pela "mão invisível" que o faria voltar; ou talvez tenha sido, apenas, a experiência da solidão inspiradora que sentiu quando por lá passou. Ou tudo isso. Se o acto da criação é solitário, então Thomas encontrou a invisibilidade e o silêncio num atelier que construiu no alto de uma serra onde tudo avista mas ninguém o vê.


É ele, só, e a inspiração que lhe vem de cima e com a qual descodifica o nosso imaginário infantil e recria, utilizando uma linguagem em metamorfoses constantes, a expressão artística da natureza.
E assim continuará a registar, de forma metódica e disciplinada, nas linhas de um dia transformado em caderno os esboços que o seu génio criativo materializa e a nossa memória perpetuará.

Este é o legado de Thomas Schittek.